O físico britânico Stephen Hawking, o famoso autor de “Breve História do Tempo”, morreu esta quarta-feira, aos 76 anos. Em 2014 resolveu contar a sua própria história, na qual dizia que tinha realizado quase tudo o que queria na vida, apesar de estar imobilizado numa cadeira de rodas e de só falar através de um sintetizador de voz. Republicamos o artigo que publicámos na altura da publicação do livro, no qual contava as circunstâncias em que descobriu a doença, quando tinha 21 anos. “Um homem feliz” era o título do artigo
É quase impossível de imaginar como um homem pode ser feliz com uma doença tão grave, que acabou por condená-lo a uma cadeira de rodas e a privá-lo de quase todos os movimentos. Mas Hawking é o homem e o cientista do impossível. “Quando tinha 21 anos e contraí a esclerose lateral amiotrófica, pensava que a minha vida estava acabada e que nunca iria realizar o potencial que sentia possuir”, confessa.
“Agora, 50 anos depois, estou muito satisfeito com a minha vida.” Na verdade, os seus argumentos parecem imbatíveis. “Casei duas vezes e tive três filhos lindos e realizados. Obtive sucesso na minha carreira científica. A minha doença tem sido uma vantagem, porque não tive de dar palestras nem aulas nos cursos de licenciatura e também não tive de participar em comissões entediantes e consumidoras de tempo.”
Ou seja, Stephen pode dedicar-se “completamente à investigação”, a sua grande paixão. E tem um grande orgulho no seu trabalho: “Para o público em geral tornei-me provavelmente o cientista mais famoso do mundo.” O segredo para esta vida feliz é aparentemente simples. “As pessoas com deficiência devem-se concentrar em coisas que essa deficiência não as impeça de fazer e não devem lamentar aquilo que não podem fazer.” Por isso, Hawking afirma que conseguiu realizar “a maioria das coisas que queria”, que incluíram sete visitas à antiga União Soviética, seis visitas ao Japão, três à China, uma à Antártida e muitas outras viagens. Palestras no Grande Salão do Povo em Pequim e na Casa Branca. Encontros com presidentes dos maiores países do mundo e com dois Papas (Paulo VI e Bento XVI). Viagens ao fundo do mar, de balão e num voo de avião em gravidade zero.
Enfim, tudo o que muitos prémios Nobel nunca conseguiram alcançar. Quando recebeu em 1974, em Roma, a Medalha Pio XI da Academia Pontifícia de Ciências, o Papa Paulo VI desceu do seu trono e ajoelhou-se para falar com ele, porque Hawking já se encontrava confinado a uma cadeira de rodas.
“Tem sido uma época gloriosa para viver e fazer investigação em física teórica. Fico feliz se tiver acrescentado alguma coisa ao nosso entendimento do universo.”