José Gomes Ferreira escreveu um artigo de opinião a alertar para um problema que os políticos parecem não querer ver, e que se está a desenrolar nas nossas “barbas”. As semelhanças com o passado recente (troika) são mais que muitas, mas nem isso parece “acordar” que nos governa, que insiste em dar prioridade na agenda política, a um vírus que já se viu que vai acabar por desaparecer sozinho.
“As semelhanças de 2020 com 2009 são arrepiantes. A uma brutal crise económica à vista, o governo responde com um grande programa de investimento público, mais uma vez nas escolas, em computadores para todos e em obras de regime com muitas rotundas e variantes. A Parque Escolar foi a festa que se viu. Agora, não há concursos até 750 mil euros e as prioridades não são discutidas, ao contrário do prometido. […]
Agora, tal como naquele ano, ninguém estava muito interessado em ouvir falar de bancarrota. O adormecimento coletivo era pesado, uma espécie de anestesia paralisante. O que era preciso era manter o investimento público para aumentar o consumo interno e compensar a menor procura externa…com dinheiro pedido lá fora. Exatamente a mesma frase que acabamos de ouvir dos nossos governantes – fomentar a procura interna com mais investimento público…com dinheiro que não temos, haverá de ser pedido nos mercados.
Agora, para a maioria os temas de conversa são as demarcações e os lugares disponíveis em cada praia e o impacto do confinamento nos animais domésticos. […]
Sim, haverá défice público recorde em 2020, mais de 13 mil milhões de euros de buraco financeiro. Haverá défice também em 2021. E em 2022 e seguintes. E défices em espelho, nas contas externas, que estão de regresso – os mais perigosos porque são os mais importantes para as classificações de dívida das mal-afamadas agências. […]
Na vertigem da pandemia desapareceu grande parte da economia composta de exportações, turismo e transporte aéreo à cabeça. Economia que não se pode recuperar por decreto. […]
E não, o dinheiro que virá de Bruxelas e Berlim não vem só para tapar défice. Vem sobretudo para a economia, a conta gotas durante sete anos. Só uma parte chegará depois aos cofres do Estado. […]
Um ano a pedir crédito abundante no exterior, aguentamos. Dois não. Três muito menos. Sim o risco de bancarrota regressou e Marcelo, Costa e Rio ainda não perceberam ou pelo menos não mostram que estão conscientes disso. […]
Já que os políticos não mostram perceber como funciona uma união monetária sem união política, nem como funcionam os mercados financeiros, fica o alerta, para que não se diga que os jornalistas não avisaram.”